{ quem somos }
. . .
quem somos, quem fomos
"viver é ver as bobagens que a gente fez até o dia de ontem"
gr
. .. e se achar vacinado contra novas besteiras
entendemos depois o que não aceitamos agora
uso a instalação original
com as configurações enraizadas
pois não há como trocar a placa mãe
e acho que faço bom negócio
deixando de me obrigar a atualizar
noto que se ocupam demais e perdem o que tenho
ora a simplicidade me atrai e novos costumes não me excitam
os espertos de sempre só observo
parece existir uma vontade universal
de se interessar pelo que não vale a pena
e a moda é falar sobre o que não se deve fazer
após muitas confusões me convenci que
o que se precisa saber é saber o que não se precisa
cuidar-se de quem fala rápido, alto e animadamente com a gente
. . .
eu, paulo romeu pereira bissoli, filho de romeu julieta bissoli
e maria da luz pereira bissoli, paulistas da noroeste de sp
com sorte nasci em poços de caldas em abril de 53
numa grande, bela e velha casa, hoje tombada
tínhamos no quintal 23 espécies de frutas
na vila crúis, frexêro de papo amarelo
'funciono' com email,
o mesmo há 26 anos: promeu@myzoom.com.br
hoje com o tel 35 99872 0972 só whatsapp
não carrego, olho algumas vezes ao dia
estou na rua josé tolentino 15
o planeta com 2,5 bilhões em que nasci, agora tem 8
era como se um fusca com 2 adultos e uma criança
onde ora viajam 8 indivíduos no mesmo espaço
sendo que há 2 grávidas entre eles
criando recíprocas encrencas
muito lixo e doenças
estes mal se conhecem
o que incita os roubos e furtos
sei que nada é como antes
assim como hoje está melhor que amanhã
sempre me interessei pelo funcionamento das coisas
e o comportamento das pessoas, dos bichos e das plantas
usei régua de madeira na escola
vi chegar a 'matéria plástica'
e as canetas esferográficas
viajei em maria fumaça
de bicicleta também
banhos de bacia
infância e adolescência 'normais', nas faltas e excessos
a irmã mais velha era secretária da escola primária
depois foi a diretora do ginásio, pensa bem (!)
lembro melhor agora, não me foi fácil
eu era um espalha roda
daí veio minha mania de fazer tudo sozinho
estratégias de convivência deficientes
sou o que fiquei após o que não tive
mas aparando aqui e lixando ali
melhores lembranças da escola são as férias
milhares de horas em mata fechada
facas, estilingues e espingardas
e andava muito no campo
íamos longe mesmo
fazia cirquinho com os amigos em nossos quintais, entradas pagas
copiávamos, fazíamos e evoluíamos nossos brinquedos
fogueirinhas à noite na rua para falar de tudo
dos 8 aos 10 anos me alistei como coroinha
achava bonita a solenidade da missa, concentrações,
decorar respostas em latim, acender velas, tocar campainha,
aparar patena para conhecidos e familiares e parecer muito sério
as becas sujas, mofadas e fedidas, sempre
as freiras só cuidavam dos paramentos do padre
mas, o principal e verdadeiro sentido da coisa:
ajudar missa na roça nos fins de semana
o que era um pitoresco passeio de jipe
com o almoção oferecido ao padre
comia de dormir na mesa
aos 12 fui para o seminário dos americanos
experiência importante pra vida toda
eram muitos riquinhos afetados
e tantos pobrezinhos iludidos
vi e vivi a vida de mosteiro
disciplina, aprendi mais do que esperava
estudei, mas não era minha praia
um ano, consegui sair inteiro
a pior mentira é ficar disfarçando a verdade
então abandonei doutrinas e lero-leros
representações cansam
parênteses: em 93 encontrei no rio um ex colega de lá
dos mais velhos, que me falou de tudo que não vi
horrores e perversidades daqueles 'santos'
3 padres 'bonzinhos' da pior espécie
atrevidamente precipitei o resto: saí de casa aos 16 1/2
época de 'expansividades patrióticas', medo de sumir,
'integração nacional', 'pra frente brasil', dom e ravel,
um frávio cavalcanti, puxa-saco de generais,
aliciava o país, 'a cores, via embratel'
na minha sala de eletrotécnica tinha 29 homens
que só esperavam uma boquinha na alcoa
e isto era o único assunto na cidade
mal sabendo fazer fotografia fui sem base ou garantia
pois não conseguia me harmonizar nas escolas
interessado por tudo, não me aplicava
sempre sentei perto de janelas
mas linguagem e aritmética absorvi fácil
faço contas rápido se ouço números
a regra de três é minha parceira
a relatividade primordial
caipira, procurando me informar, li o que me caiu às mãos
sem cultura cultivada, li muita porcaria recomendada
tinha muitas perguntas sem quem me respondesse
recentemente, aos poucos aprendo a me achar
há 20 anos nos fundamentais
gosto de história geral, natural, de boas histórias, ciência, aves e aviação
tomei bronca de tv vendo a grôbu, o jornal nacional, o 'oficial'
encho uma mochilinha de conhecimento bagunçado
me ajuda a tentar entender coisas elementares
a desorganização me acompanha, assumo e vivo
entre sins e nãos, aproveito os dois
absorvo o que vejo
cheguei na idade de prováveis entendimentos
. . . . . .
fiz este site em 96 para ser 'meu lojinha'
queria divulgar os trabalhos da hora
uma vitrine de curiosidades
e falar sobre o que via
por comentários de amigos
achei e tomei gosto
de me entender
criei meu phei sibuki
"no espelho da visão está a segurança da verdade"
do código visigótico - teodorico - séc V
se 3 ou 4 se interessam, já me satisfaço
reformado em 2005 serviu até hoje
logo desmonto, também cansa
aqui, 'pelos finalmente'
...
fundamos a my zoom fotografias ltda em 1990
o nome é uma referência às minhas tentativas
eu e um colega mais interessado, o incitador
que se mancou e saiu em um ano; paguei
tive muitas propostas na vida
e dois sócios acomodados
só agora me dei conta
o tempo acaba evidenciando
quem são os que se aproximam
em 2014, na jucerja, 'garfaram' o nome que inventei
disseram que já existia, insisti que era eu mesmo
2x a mesma resposta, sem outras explicações
fui vendido e comprado, perdi a my zoom
meu contador não foi lá ver o porquê
e eu nem seria atendido se fosse
ainda tive que dar 500 reau
pro fiscal me entregar o novo alvará
que estava pronto na gaveta, ou nunca estaria
é kafkaniano:
quem precisa rápido dos serviços oficiais, tem que pagar
e, se descoberto é o único culpado e condenado
pois, encalhei, perdi o gás e parei
a firma está inativa e à deriva desde 2015
"o governo não é a solução para nossos problemas.
o governo é o problema ! "
r. reagan 1982
" . . . isso é jogo 'robado ! "
n. nahas 1989
ao menos mantive o domínio do site
. . .
o que entendo do mundo:
a terra teve saúde até que começamos a migrar
e o 'renascimento' liberou toda depredação
o consumo mudou 'um pouquinho'
vivenciei muitas transformações, outras nem vi
mas sei que muita coisa é a mesma coisa
daqui posso me arriscar a definir
o que consegui aprender na vida
mesmo que demore
ou nem consiga
mas tento
...
minhas broncas: os protocolos da hipocrisia
a corrupção mais sutil e bem aceita
estamos caminhando para uma era de cinismo puro
mudanças em ressignificações capciosas
uma praga de maquiorwéllicos
tantos ecocôlogistas e ambientalistas xiitas
dissimulando seu consumo e dejetos
só vivem dando alarmes
ouvem o galo cantar e nem sabem onde
vendo uma paisagem-ruína estuprada,
plantações da cargill ornadas de brachiária da monsanto,
alardeiam sonsamente: 'olhem que belo verde tem a natureza !'
o comércio de água, suas marcas irônicas e embalagens
são abusos aceitos por quem faz auê por canudinhos
maldades agora têm nomes modernos
a pior é a tal de 'qualidade de vida'
falsa, irônica e indigesta
quanto mais piorarem as coisas mais ouviremos este termo
novas regras inventadas já infectadas
e nauseantes termos 'adequados'
vis versões em inversões
'bem estar' é nome da seção de psicotrópicos nas dez milhões de farmácias
veneno brabo era agrotóxico, ora piores são definidos como 'defensivos'
acabam com nossos passarinhos que comem insetos envenenados
menos passarinhos, mais insetos, mais venenos, mais lucros
sem falar das santas abelhas, coitadas
tudo por mais produção, mais dinheiro,
menos qualidade e mais direitos de depredar
o 'meio ambiente' não considera favelas e enormes bairros pobres,
casas sem cara em áreas inundáveis com terrenos sem quintal
onde não se recolhe o lixo nem se trata esgotos, excluídos
berçários e criatórios de indolentes e famigerados
problema que ninguém quer ver e admitir
e como dão nomes bonitos a esses lugares !
urbanização meia-sola, pouca civilidade e ordem social,
encostas, onde as prefeituras quase não têm ação
rios sujos, maus cheiros, pressas, doenças
a zeliti se 'isola' em condomínios de altos muros
'protegida' por 'seguranças' de baixos salários (!)
o que não é feito pro povão, mais barato, ora é 'gourmet'
produtos desqualificados em meigas embalagens
coisas sem mais gosto com caprichados elogios
comum terem prêmios em algum 'concurso'
os 'artesanais' chegam a ser piada
mais os produtos ''orgânicos'
sujos, raquíticos, sem graça e caros
dos 6 aos 12 anos cuidei da horta de casa
puxei balde no poço e muito regador
enxadão, enxada, rastelo, sementes
colhia gêneros bem mais viçosos
só na boa terra do quintal
café bom tá quase impossível aqui
sai a preço de ouro pras alemanhas e canadás
só nos sobra uns negócios amargos e
espumantes com cheiro esquisito
melhor seria a moda do humanamente correto
mentir oficialmente é legal e funcional
todos querem uma boca no governo
assim nunca seremos nação
ora não é só o rei que está nú
. . .
hipócritamente correto:
gado, café, soja, míio, pinus e eucalípiu
ressecam nossa boa e bela terra
e engordam bandidos
o 'agro' tem todo direito de arrasar com méritos
e exportar minérios 'nos traz riquezas'
falam de bilhões em receitas
ninguém comenta a exportação dos lucros
quando a terra agonizar eles a venderão pra nóis
carne boa, papel, bom café, soja para vacas bonitas
tudo do bom e do melhor vai para os gringos
a 'bancada ruralista' se lambuza
a verdade submerge
pelo resto do país, são os governos que mal se governam
curriolas revezando-se nas cadeiras, justiça conivente,
homens públicos agindo como mulheres públicas
facilidade com que aumentam suas vantagens
planejamentos míopes, efeitos ignorados
voraz e perene absorção da arrecadação
bolsas-migalhas eleitoreiras viciantes
administração de receitas e cargos
inflação-saque trivial
a culpa pelo estado de coisas é sempre do governo anterior
todos falam isso com a turminha batendo palmas atrás
amazônia ao deusdará, oportunidade de esmolas estrangeiras
acompanho fotos de satélites desde o landsat 3
os ibamas 'não olham' nem o google earth
esqueceram de avisar a eles
falam em voz grossa com olhos duros piscantes
em milhões e bilhões que 'serão destinados'
e ninguém pergunta quanto nos custa
as mil estatais e tantas instituições
que mamam e não produzem
a verdadeira 'zeliti'
perderam a noção do excesso
transgênicos sociais
só engordam o estado
fomentando as migrações
e a pior violência: a miséria
patriotas são só os 'motivados'
excluídos e explorados vivem o Brasil de fato
ou o país é só mesmo dos privilegiados oficiais ?
seus salários bastam para 'abastecer' nossa 'economia'?
somos um cadastro de contribuintes e achacados
ditadura de estado que insistem em chamar de democracia
só sabem mostrar trabalho regulando os outros
como operar mudanças num sistema viciado
se só sabemos reclamar entre nós?
e acostumar, por preguiça (?!)
numa ditadura as decisões são impostas na marra
nas 'democracias' elas vêm com vaselina
jornalistas nunca se aprofundam nestas deturpações
aliás por seus vários confortáveis motivos, evitam
bem pagos, amaciam as informações oficiais
(eu também tenho medo dos poderosos)
só leio os títulos dos principais jornais
em toda notícia há política embutida
parei de ler opiniões e julgamentos
demoro mas aprendo a peneirar
é amargo ouvir empolgados dizendo: "voto consciente", "transparência",
"regulamentação", "políticas de apoio", 'instituições democráticas',
"mecanismos eficientes", 'sociedade organizada', 'comunidades',
"passivo ambiental", 'cotas de carbono', "interesse social",
'produto artesanal', 'diet', ligth, direitos adquiridos,
'patrimônio do povo brasileiro', 'biodegradável',
'medidas efetivas', 'ajudas emergenciais',
'desenvolvimento sustentável',
'países em desenvolvimento',
'responsabilidade social',
'nossos colaboradores',
'combate à corrupção'
'cofres públicos',
'justiça social',
'servidores'
'parceiros'
'inclusão'
'metas'
e os nomes acintosos dos partidos políticos ?
todos 'seguem' afirmando essas coisas
em motivações inconfessáveis
a civilização se justifica e se complica
abusos são direitos e vice-versa
o que evolui é a propaganda
e a burocracia mãezona
religião, tirania, ambição e corrupção
aviltam a cultura na américa latina
herança romano-ibérica-cristã
em toda capital uma igreja monumental
com grande estátua de cavalo e general
"fora do poder não há salvação"
golbery, em 80
. . .
nosso país:
projetos de sobra e folgados que fingem que trabalham
o 'pogresso' é a decadência travestida, ação que é bão, pouca há
numa escola de bairro daqui
o capim cresceu, apareceu uma cobra
a diretora chamou a rádio pra denunciar
a palavra final foi da secretária de educação:
"ah, mas o homem que limpa está 'cumprindo licença' ! "
na voz mole e adocicada imaginei a perua perfumada
seus benefícios são maiores que as crianças
essas professoras não entendem ! !
a rádio encerrou o assunto achando ter feito bom trabalho
e por que os pais também não fazem um mutirão e limpam ?
bom exemplo para as crianças e os folgados 'servidores'
numa outra da zona rural, 4 ou 6 salas no máximo,
vi e contei 18, dé-zoi-to carros bons e novos
de foncionários, claro . . . merendeiros
morei 23 anos num velho prédio pequeno no flamengo
três velhinhas recebiam 20 mil dólares de aposentadoria
uma do governo do estado, outra do incra, outra da receita federal
uma delas me disse que nunca trabalhou na vida, só ia bater o ponto
'lavavam a alma' dando gordas esmolas à população de rua, os viciados
instituições e estatais nos asfixiam
cada dia maiores e 'corajosas'
irresponsáveis e vaidosas
são, antes, corporações
"nossa economia é sólida", 'o povo sabe o que quer'
"vivemos numa forte e legítima democracia"
assim falam os coronéis oligarcas
e seus partidos sujos
'a justiça não pode existir onde a política domina.'
ez
estado infestado de estatais, aposentadorias abusivas,
salários vergonhosos, excesso de cargos, fora as mil boquinhas
a impunidade fomenta a corrupção, da esplanada ao meu vizinho
privilegiados natos e profissionais
'malfeitos' e tramóias de alta rotatividade
a cada ano se esquece (eu não) das anteriores
aproveitadores sem escrúpulos, insolentes atrevidos
jornalistas num buffet diário de escândalos ou jogadas
visando vender opiniões convenientes ou ardidas
repórteres boçais com perguntas bobinhas e combinadas
os oportunistas dando respostas sonsas e petulantes
turminha otimista atrás, sorrindo e aplaudindo
bem seguros e confortáveis, tudo já pensado
sempre prometendo enérgicas ações
as incompetências camufladas
e tudo se esquece
quando com um pobre coitado
eles não têm escrúpulos em apertá-lo
terminam a matéria com carinhas ensaiadas
de aprovação, censura, 'que horror!' ou 'podem rir!'
jornalistas vendidos e tantos ingenuamente cooptados
não vejo um fazendo perguntas cruas e práticas
também são servidores
seremos sempre pobres, vivendo de raspas
quando se fala "povo brasileiro"
pergunto 'cual dus pôvu?'
...
a cultura é o marketing evoluído
nas redes, a revolução evapora em 2 dias
em selfies nas mesas de butecos
fora algumas licenças para bagunças
tantos afetados conclamando ação
ativistas incitando desocupados
ostentação de intenções
purga de fracassos
a constituição visa o fortalecimento do estado
raquitiza a nação e nosso esperado futuro
"a prefeitura engorda a gente"
ouvi na feira
"o governo se atribue a exclusividade do roubo"
a. saint-hilaire, humilde, culto, virtuoso
e clarividente, quando aqui em 1822,
sobre o comércio de ouro
mas isso evoluiu também
. . .
faculdades genéricas, indignas e semi-inúteis
fabricantes e distribuidoras de canudos
vendedoras de sonhos-loteria
mananciais de desiludidos
mercadão da 'educação'
das boas, suas melhores crias
são laçadas e levadas pelos gringos
ou entram em 'carreiras de enrolação'
porque vicejam tantos cursinhos hoje ???
os que sobram mudam de atividade
passam o resto da vida tentando
ainda somos uma grande colônia de simplórios
ora multinacional; "êlis dá imprêgu pá nóis !"
não: eles alugam espaço, gente e recursos
nóis num priciza dizinvorvê mais nada
a modernidade nóis compra pronta
minério, mío i soja nóis izpórta
'entra' as diviza !'
... que usamos para comprar todos os insumos,
sementes e implementos que eles fabricam
aqui mesmo, pelo preço que querem
fora os brinquedinho ...
mas ainda sobra pás 'caminhonéti'
intão tá bão !
drenagem perene, colonização evoluída
eles vêm com dinheiro tirado daqui
ganham incentivos oficiais
e exportam os lucros
i nóis báti parma !
a coca cola extrai nossa água do nosso subsolo
até de guarulhos, área densamente povoada
vende pra nóis mêmo, i pôe na garrafa:
"o melhor do brasil é o brasileiro" (água cristal)
atletas bombados e tatuados, modernas 'ativas', apressadas
desfilando por aí ostentando a garrafinha na mão
parece que não têm água em casa
a alcoa vem, ganha energia elétrica do governo
esburaca a região, processa nosso minério
e nos vende o nosso alumínio
um eletrotécnico e uma técnica química
bastariam para produzir os lingotes
se tivéssemos vergonha na cara
mundo-mercado, nações-fábricas
gente mansa e tantos 'sabidos'
legisladores afins
"purque nóis atrai investimêntu iztérnu"
o supra-sumo da inguinorânssa!
evoluir a NOSSA produção ... esquece
o estado e os carrapatões das universidades
demoram, criam empecilhos, complicam tudo
querem embarcar nas possibilidades de sucesso
atrapalham e sufocam os puros e as boas iniciativas
o lucro gordo, que sempre foi embora,
deixa os empreguinhos, os graças-a-deus,
uns trocados para projetos sociais e ambientais
dinheiro para relatórios e trocar computadores
sujeira, ruínas e bons pixulecos nas mãos certas
as mesmas mãos que carimbam as 'licenças'
que dificilmente são dadas a nós, cidadãos
talvez, justamente, por sermos pobres
e fracos para satisfazer as barnabés da nata
espelhinhos e brinquedinhos nos bastam
discursos enrolatórios nos orgulham
nóis num crésci, a genti inchamos
e ainda enaltecemos os espertos
"eu vi um homem que viu o mar!"
dito ibérico de 1000 anos
ser empreendedor brasileiro
é arriscado e até heróico
sujeito a antipatias
aqui mesmo
'num góstu di trabaiá pá patrão póbri ! '
. . .
'cidades sem alma, amontoados de gente'
p.
infestadas de desocupados e vândalos
a 'natureza' aparece bonita na tv
os sentimentos nos filmes
isso basta e satisfaz
folgados embarcam num 'coletivo'
e dão uma olhada, às pressas,
nos lugares da moda
voltam elogiando os bacanas
sua limpeza, organização
e suas 'boas vidas'
só o lado bom
apaixonados
depois, aqui
voltam a explorar
'seus colaboradores'
e mamar seus benefícios
arrotadores de moral
vivem nas costas dos outros
orgulhosos de suas espertezas
agentes afetados do continuísmo
amargam as belezas do mundo
tiram sua graça, os sem graça
e suas crianças já esquisitas
dá dó
pois só há irritação, insolência e deboches
com quem procura chão limpo pra pisar
se frequentam os centros de consumo
o melhor é buscar alguma paz
onde não aparecem.
nossa terra é acolhedora
nossa gente é do bem
encontre quem puder
fique quem souber
tem gente boa aí
.
eu espero estar errado
. . .
há que merecer
o que antes me irritava ora me interessa
os inversos explicam até melhor
tudo se aproveita e aproveito o que posso
é como uma equação matemática
que elimina as redundâncias
saber perguntar é o melhor saber, principalmente a nós mesmos
para poder aprender a ver de fato o que nos ensinaram 'oficialmente'
atentar, ver, entender e se 'vacinar' contra o que querem que acreditemos
constatar que o mais proveitoso
é descobrir o que a gente não precisa
e conscientizarmos dos nossos direitos naturais
estimo nossas faculdades
vivo a vida que ganhei
e valorizo
. . .
fiquei um dia no facebook
o que me bastou
não torço pra nenhum partido político
não bato palmas para 'simpáticos'
não frequento platéias
'na multidão, contra mão'
tom jobim
e não me incomodam mais as críticas
de quem só sabe das coisas prontas
porque leram ou ouviram
nos sofás e nas tvs
e, principalmente,
de quem pouco alcança
e tenta nos puxar pra baixo
. . .
o que andei fazendo:
fui pro rio em 71 por gostar desde 1955, ia nas férias
em 65 andava sózinho entre ilha, ipanema e tijuca
vi os últimos tempos do rio de janeiro agradável
os bondes, a maresia ainda com cheiro bom
e o das amendoeiras no início do verão
bem poucas e pequenas favelas então
a rádio mundial que nos excitava
música da época bem inspirada
o feijão preto com carne sêca
bons butecos pra se comer
um bom pasquim pra ler
o sotaque das meninas
e suas roupas bonitas
mas vi que era diferente naquele meio
tiveram escolas melhores que eu
mas criados dentro de casa
e na praia
pois, ouvi algumas vezes:
"gosto muito dessas coisa de natureza!"
e disputei espaço e chances com eles
demorei a assumir minha caipirice
que depois até me ajudou
ganhando bons salários, dignos na época
a vida me atropelou sem explicações
logo enrosquei, tive de dar conta
das necessidades que criei
descartando sonhos
tive a sorte de conhecer e conviver com 3 bons amigos
wilson moura, carmelo luises e rodezir martins
me dispensaram atenção e sua experiência
foram verdadeiros irmãos mais velhos
informados e muito vividos
p... velhas do rio
primeiro imitando-os pude evoluir mais fácil depois
consegui formar a base que me faltava
a iniciação em são paulo valeu
sem eles nem sei como seria minha carreira
poderia ter sido sufocado e massacrado
por invejas, preconceitos e assédios
que sempre me foram intensos
eu sei o que passei
na profissão havia que aturar os interesses
e tentativas de aproximação pela vida de fotógrafo
nunca me achei artista, mas técnico criterioso, apaixonado pelo ofício
uma profissão que é muito atraente, prestigiada . . . e de folgados
em 5 anos já podia rir dos 'sabidos' com décadas de prática
contemplador e preguiçoso, inventava métodos
pelo que passei por despeitos e chacotas
mas mudei alguns costumes
vendendo trabalho e dando interesse grátis
perdi a vontade de acreditar no que vejo
sei como mostrar, como se mostram,
e o que fazem pra se mostrar
sequei minhas ilusões
não fui fotógrafo de capa de revista
(mas tive foto em página dupla na veja)
por necessidades básicas priorizei a rapidez
evoluindo pontos de vista, boas cores e nitidez
ora frustrado por não ter feito mais retratos
minha experiência em laboratório foi primordial
ampliava e analisava fotos de pessoas diferentes
maduro de ampliações, fotógrafo crú até 76
quando entrei na área imobiliária
. . .
atividades resumidas,
o que fiz de útil:
saí de poços em 70
já sabia revelar em cores
1 ano em sp e ribeirão preto
de mochila desci no rio em 71
com 50 mangos que a mãe deu
(um prato de comida era 3,60)
havia o emprego que escolhesse
mafra, multicolor, meus mestrados
fui atrás de meus próprios trabalhos
pasta de fotos sob o braço, downtown,
em 75 já tinha bom laboratório próprio
sérgio dourado nos deu o maior impulso
aprendi a iluminar maquetes nesta época
então não precisava mais procurar clientes
nem fuji nem kodak: sou cria da agfa-gevaert
fui fotógrafo e colunista policial em jornal de sp
na verdade reescrevia os boletins de ocorrências
trabalhei na cozinha das notícias, vi os processos
'di menor', empolgado mas inseguro, fui demitido
sem mágoa, vi o que me ajudou aprender mais tarde
lá também fiz muito casamento, formaturas e festonas
fui piloto acrobata de colormat, varioscope e durst 1000
era fera nas ampliações, fiz muito trabalho pra medalhões
em 74 já sobrevoava o rio e o brasil com, pela e para a votec
fotografei muito avião e helicóptero de helicópteros e aviões
ampliei fotos de toda a obra da ponte rio-niterói para a ecex
registrei as sondas P3 e P5, as pioneiras da bacia de campos
mpm, standard, kastrup, mccann, jwt me deram trabalhinhos
em 73 fotografei toda a fábrica nacional de motores, a fênêmê
fiz laboratório pra jacques van de beuque e o marcel gautherot
fui amigo e provedor de ampliações de paula laclette, botânica
de 73 a 83 servi à 'pétobráis', terceirizado, e fotografando ossos
tudo que ela terceiriza e diz que faz, as realidades próprias deles
pude entender como que funciona seu lema "o petróleo é nosso"
vi luxos, buchos e caviares que ainda me revoltam, mas precisava
frequentava o 20º andar, entre outros eu fui algumas vezes ao 24º
no 3º escalão 'fui convidado' a doar uma moto: dei o capacete e saí
fiquei com a impressão dela ser uma outra brasília, são só nobrezas
de 78 a 2002 ajudei 'seu' oscar niemeyer a apresentar seus projetos
suas observações claras me ajudavam a evoluir bons pontos de vista
de 75 a 2005 ajudei três incorporadoras a vender milhares de imóveis
fotografei para as maiores empreiteiras e grandes escritórios de projeto
com fotos verticais ajudei numa dúzia de viadutos e dezenas de canais,
duplicação de estradas, urbanização de praças, de favelas, loteamentos,
centenas de kilômetros de "terra incógnita" para linhas de transmissão,
era no tempo do landsat 7, detalhes no chão só podiam ser adivinhados
complexos industriais, esportivos e penitenciários, terrenões, fazendas,
fiz até 500 km2 de área urbana em 1:2000, 150 km de valas em 1:500,
vielas para asfaltar, becos, questões de divisas, encostas ameaçadoras,
bacias assoreadas, vazamentos de esgoto, aterros/lixões clandestinos,
projetos de anel viário, novas avenidas-canal e planos de recuperação
de 91 a 2015 fiz fotos verticais pra quem sabia que eu fazia, ajudei na
rapidez dos projetos pela nitidez dos detalhes, evoluindo o que podia
estratégias de intervenção e técnicas de manejo se fizeram mais fácil
minhas hasselblads normal e superwide até esquentavam, heroínas
pedi autorização a famigerados para fotografar nos seus territórios
entrei de moto, só, no grotão da penha para concorrência de obras
de dt-180 novinha, subi as vielas, falei com os 'caras', e fotografei
um major pm, do serviço de inteligência, foi em casa e me pediu
uma palestra 'com máscara ninja'; eu disse pra ele ler os sertões
também fotografei em detalhes os presídios bangú 1 e bangú 3
de 81 a 83 inventei molduras auto-adesivas e montei a fábrica
no pé do morro do alemão, tive 15 escravos, 25 mil peças/mês,
inflação de figueiredo e dumping dos concorrentes, quase fui
em 78 ajudei nas exposições do 'programa nuclear brasileiro'
até almocei em churrascarias com os tecnocratas e coronéis
ria com eles pra não perder os gordos trabalhos que davam
e fotografei todas as frentes de itaipú para o relatório de 79
também montei uma boa exposição na barragem de furnas
fui 2x à escolinha do prof raimundo a serviço de um 'aluno'
fotografei 60 fazendas do tempo do império p/ um livro chic
comi frango em algumas antes de virarem pontos turísticos
fiz a produção e montagem de painéis no espaço lúcio costa
e claro, do espaço niemeyer também, trabalho inesquecível
os painéis duplos do memorial jk, descartando a manchete
e pro oscar fiz quatro exposições abrangentes de sua obra
fotografei e filmei o engenhão, da fundação à inauguração
quando vi que era um cineasta de terceira, só penso foto
participei de um mutirão voluntário p/ um orfanato novo
para o banco central: exposição eco 92 e a nota do gaúcho
fiz 70 painéis da exposição 'arquitetura de terra' no mam
festinha no oscar, despedida de uns arquitetos franceses,
me contrataram para registrar a pequena reunião, então
bebi com darcy ribeiro, vinho do melhor, o quase porre,
empatamos no falatório, de religiões às mulheres, claro
oscar com os franceses, de olho na gente, quase ciúmes
ele sempre pedia pra eu contar minhas viagens de moto
não dele, já recusei uma 'boca' no ministério da cultura
agradeci, vi que teria de usar coleira, ficar à disposição
no tempo do 'zé do mé', quando tinha muitos clientes
tempos em que secretários me agarravam pelo braço
governador me mandava emissários para 'furar a fila'
voei a região de presidente prudente pro incra 'lotear'
entre 86 e 91 trab... me diverti com o sérgio bernardes
por alguns anos fotografei os projetos do cláudio, filho
em 83 e 84 fotografei enduros em praias e montanhas
nas trilhas esperava os machões passarem e registrava
agora vejo, me divertia bem mais que os competidores
e aprendi o outro lado dos homens e as suas máquinas
quando caíam, perdiam: "_a moto não me agüentou !"
acompanhei as obras de 5 trechos e estações do metrô
de parati a campos perdi a conta dos vôos que fizemos
'inaugurei' o abastecimento do aeroporto de cabo frio
de 78 a 83 pratiquei pequenas esculturas em madeira
tive que parar pra não parar de remar, senão parava
fiz fotos aéreas para univ. harvard - landscape dept
(um jardim do burle marx na fazenda marambaia)
de 85 a 2015 vi muito lixão 'virar' 'aterro sanitário'
fotografei expansões e revitalizações de shoppings
reproduzi arte contemporânea para galerias tops
a pedido do oscar, fiz as bandeiras do parlatino,
fotografei p/ a coppe, lab hidrologia, ime, iplan,
dei uma aula na uerj sobre foto-interpretação
em 1994 abasteci de fotos o comitê rio 2004
colaborei 10 anos nos projetos do chacel,
20 anos c/ sérgio dias e ricardo amaral
comecei um livro com joaquim levy e
o escritório de burle marx em 2014
levei-o a almoçar no meu buteco
e dilma me levou o joaquim
então o mundo se me afastou
já não precisavam de mim
era a vez de outros
logo quando eu fotografava melhor
. . .
em 2015 foi pro lixo meu arquivo de cromos e negativos
em 2003 cheguei a oferecer para o arquivo da cidade
"não tinham recursos e pessoal para catalogar"
os filmes mofaram, salvei as digitais
negativos e fotolitos do oscar, deixei na fundação
de 2000 para cá enchi mais de 200 CDs e DVDs
e, em HDs externos ficaram 2,5 Tb
as fotos que fiz tiveram finalidades práticas e políticas
algumas das quais refaria com melhores critérios
por orgulho e merecimento de causa
outras (e foram tantas) eram feitas só pra inglês ver
muitos trabalhos foram para ilustrar projetos
que se sabia destinados a ser só projetos
para uns dizerem que realizariam
e garantir novas verbas
tenho vergonha ainda disso e certa raiva
fui um peão muito usado em altas partidas
participei de reuniões em grandes e altas mesas
via como os escrúpulos eram descartados
nas animosidades das inúteis criações
e as debochadas risadas ... !
fiz eventualmente algumas fotos bonitas, pois naturais
nos translados a um objetivo, curtia singularidades
e exibia as que gostava aqui
mas o dinheiro vinha mesmo era das fotos feias
tragédias ambientais, favelas, lixo, erosões, assoreamentos
obras coloridas para o povão, catálogos de vendas, reproduções
de graça eram fotos de pedras ameaçadoras nas encostas,
fotos de poluição evidenciando causas, nós de trânsito
que os poderosos nunca gostaram de receber
e trabalhos de estudantes, mas só pra alguns
mauricinhos e patricinhas pagavam
achava muita coisa fácil, noutras nunca levei jeito
mas justificativas não explicam nem justificam
trabalhei pra mocinhos e bandidos
entreguei serviços medíocres
não podia escolher clientes
euieu pelos meus
"paulinho: vc vende um tempo que não te volta mais
por uma moeda que não corre nas tuas veias."
sérgio bernardes em 88
era só medo de ficar sem trabalho
com estrutura vulnerável, atrevido a missões 'brabas'
passei por muitas angústias, ansiedades e perigos
são histórias que resolvi tirar daqui
algumas comprometem
vi de perto mais do que esperava, intimidades da profissão
fotografei muita gente trabalhando de me dar vergonha
e folgados sem vergonha que só fingiam trabalhar
esses, os que mais sabem e gostam de posar
nas suas coloridas realidades oficiais
e sempre de jalecos novos
. . .
gosto mesmo é de lembrar os vôos
que fizemos pelas serras do rio
sei daquelas montanhas
depois ia de moto
cria de laboratório, custou mas montei um do melhor nível
químicos originais, papéis novos, importava meus filmes
consegui comprar uma colex 0 km de 105 cm 'de boca'
vi caras e satisfações que valiam mais que pagamento
ainda tento refinar a composição, o básico
quando laboratorista vi ótimas fotos
de amadores com instamatics
a técnica constrange a criatividade
mais hoje, digitalmente homogeneizada
pontos de vista deveriam ser estudados
em todos os seus parâmetros
já no ensino básico
de que adianta ter uma nikoltax fxd 700 mark III alpha b2 platinun-plus,
com uma super zoom 16~1600 aspherical-anastigmatic-catadioptric,
filtros nojentos, coletinho besta cheio de bolsos, marcas e marras
se o(a) 'ixpérrtu' (a) fica onde está e não 'rima' objeto e fundo ?
não entra nas suas cabeças que o que fica é a imagem
eles capricham é nas suas próprias poses
evoluem na imitação do que já viram
esquecem as pernas que andam
e o dia que tem várias luzes
pois, minha bronca e meus recalques:
em dois ou três grandes clientes tive que aturar:
às vezes uns e umas, riquinhos, netinhos, protegidas de chefões
voltavam das férias com uma nikon pendurada no pescoço
diziam-se fotógrafos e simplesmente me espirravam
inventavam uns livros-brinde, folders, logos novas
às vezes até criavam um novo departamento
botavam muitos amiguinhos pra dentro
fretavam os helicópteros da alegria
montavam uma turminha cara
todos bem animadinhos
mas aos poucos se desmembravam
assim que cansavam, enjoavam ou
suas enrolações ficavam evidentes
os chefes me chamavam de volta
amargos desdéns, mas outros me supriam
hoje vejo o bem que me fizeram
. . .
pelos trabalhos vistos e o telefone é que me achavam
assim consegui me manter nas pontas uns 25 anos
ora, para mim isto foi 'o mais principal'
fui valorizado e me fez bem
o que fiz ou deixei de fazer, fui eu mesmo que fiz ou não fiz
do meu bolso arrisquei, contratei, realizei, perdi, ganhei e doei
sempre envolvido nas expectativas dos outros
teria feito mais não fossem as pressas
que só atrasam a vida da gente
colegas com muito menos bagagem
chegaram mais longe que eu
paitrocinados, garantidos
ou bons comerciantes
poucos faziam boas fotos
de um nível que nunca fiz
porque tinham mais tempo,
mais segurança, mais capricho
eu só corria
alguns vinham me 'visitar'
hoje entendo
a vida é do tamanho exato
não faço questão de esquecer nada
o que eu não entendia, já desconfiava
não sabia que já sabia
saudades de mim
. . .
a década de 80 foi um tempo de tensões e insegurança
me dispus a trabalhar em condições de risco
alimentei à força as maiores esperanças
dois filhos e o preço do pão subindo dia sim dia não
o 'bom' do sarney e seus planos ocos foi me forçar
a sair às visitas atrás de outros trabalhos
"pra poder ver seus limites há que conhecê-los"
nietzsche
uma empresa carioca me abriu as portas da prefeitura
a prefeitura 'me entregou' às maiores empreiteiras
aquela só me encomendava, estas pagavam
e logo elas passaram a me chamar
então virei a camera pro chão, fotos verticais
cheguei a incomodar empresas de aerofotogrametria
mandaram emissário pra que eu deixasse de pegar trabalhos
e ganhasse um qualquer deles por fora; nem considerei mas deu medo
a década de 90 foi de bons ganhos; cresci, somei e distribuí
mas em 99 me atolei fundo num conflito de afetos
sacrifiquei o que tinha de bom, inconseqüente
no início endeusado por ser do meu jeito
depois execrado por continuar sendo
história cara, vivência inestimável
sete anos difíceis de mel e fel
eu desconexo, delirante
mas aprendi
nisso
houve transições que não acompanhei
desconsiderei as evoluções tecnológicas
colegas se afundavam e eu os desmerecia
a fotografia digital melhorando a cada dia
e milhões de novos fotógrafos, alguns sérios
todo engenheiro já carregava um celular-camera
os clientes me esqueciam, o telefone emudeceu
eu não queria acreditar naquilo
e também depois do 11 de setembro
aumentou a rigidez das regras aeronáuticas
já os 'malditos' drones, brincando,
faziam bonito o que nunca consegui
procurei dominá-los sem jeito para joysticks
frequentei aeródromos de velhinhos e de riquinhos
só poderia continuar ativo se contratasse alguns 'técnicos'
mas minha experiência com terceirizações era neurótica
além de fraco para investir em equipamentos e gente
não tinha mais paciência para tolerar moderninhos
ficar na obrigação de aturar envolvimento com
animadinhos, afetados e folgados (as, as, as)
conviver com espertinhos e puxa-sacos
nas suas simpatias bem treinadas
e produções demoradas
os que chegavam propondo voar muito alto
esnobavam conhecimentos do momento
embarcavam e eu tinha que servi-los
suas expectativas, meus riscos
financiei efervescências
criei corvas, cobros
e concorrentes
quem virava noites pelos prazos ?
ou aprendia para fazer depois ?
meus talentos, meus defeitos
"todos reparam nas cachaças que bebo
mas ninguém vê os tombos que levo"
- cicinho, amigo de estrada
o fato é que minha disposição já definhava
então, por este tempo chegaram as 'marolinhas'
depois das sujeiras de wall street em 2008
e os 'malfeitos' que transpiraram aqui
os bons clientes reduziram e frearam
suei pra receber serviços entregues
mas logo vieram melhores ganhos
fui a maiores e mais altos vôos
como já prático
em perdas e recomeços,
me dediquei aos mosaicos
então tive 7 anos tranquilos
trabalhando sem qualquer ajuda
a não ser a boa câmara e um bom pc
abandonei no armário 70 mil dólares
em equipamentos 'de ponta', obsoletos
. . .
fotos aéreas:
acho que já voei mais de mil horas fotografando
vi selva, pantanal, praias e tantas serras
vivi situações de pane, 3 de perigo maior
perdi alguns amigos para o chão
era conhecido por dar a proa de longe
diziam que tinha um gps na cabeça
é que sempre gostei de mapas
e me atento ao sol
e,
como os mais graduados meteorologistas
às vezes acertava na previsão do tempo
. . .
'o empresário':
quem me dera ter sido só fotógrafo sem mais encrencas pra cuidar
entorpecido pela vida louca de trabalhos e dinheiro rápidos
não amadureci a consciência de dirigir uma empresa
tive que ouvir, 'di grátis', de clientes 'amigos':
_"o paulo não sabe ganhar dinheiro!" (chefetes da prefeitura)
e de ajudantes bem pagos: "_ o paulo não tem ambição!"
deficiências natas
a ida a uma obra longe era o bom passeio de moto e/ou helicóptero
eu era muito valorizado, me dispensavam as melhores atenções
a produção da encomenda, o orgulho da técnica que evoluí
os trabalhos, tão inesperados, cada um com seu desafio
podia conhecer ambientes 'inacessíveis aos mortais'
eu gostava e tinha retornos além do merecido
não me cansava, ora isso me espanta
a grana era distribuida a merecedores e tomadores
achava que o trabalho nunca acabaria
que seria sempre procurado
de 90 a 2015 paguei mais impostos do que gastei comigo
meus privilégios foram ter interessantes missões
direito, o de entregar 1/3 a um estado ingrato
boa parte das vezes antes de receber
ainda estou pendurado na receita
por algumas guias 'esquecidas'
por necessidades básicas
acertarei quando puder
...
. . .
mulheres:
seguro é não comentar demais
seus sorrisos são a beleza maior
graças da vida, mães do mundo
seres fantásticos e principais
companhias fundamentais
preservadoras
raramente se abrem, mas abrem
discutem o que são e o que não são
deve ser bom ser mulher, tanto quanto ser homem
mas ora se importam mais com as diferenças
que com os bons complementos
querem relevância de graça, na marra
se tivessem pensamentos liberais
seriam resolvidas e completas
sem ficar se ofendendo
ou forçando a barra
das que imitam homens 'espertos'
copiam o pior, as malandragens
daria pena se não desse nojo
pelo que já vi,
dedicação e canalhice,
são comuns aos dois sexos
pois estive perto de:
incentivadoras e controladoras
producentes e depredadoras
agradáveis e insuportáveis
autênticas e dissimuladas
temperadas e confeitadas
inseguras e convencidas
potentes e dependentes
cativantes e sem graças
éticas e inescrupulosas
puras e contaminadas
suculentas e aguadas
serenas e obcecadas
docinhas e ardidas
francas e ardilosas
fortes e choronas
parceiras e rivais
posudas 'vistosas' e as magníficas
as que nos cegam e as que iluminam
as falsas calmas e as nervosas obstinadas
as que lideram e as que pensam que controlam
umas deixam saudades, outras só dão alívios
nada como deixar de arcar com a culpa de tudo
eu acredito em reciprocidade total
cruzo com madamos e perús em todo lugar
novos costumes deturpam os relacionamentos
vaidade, arrogância, vícios, compromissos
com todos os excessos de hoje, pois
não há poeta que dê conta disso
acredito em nós,
machos e fêmeas numa só balança
tudo se faz por uma segurança ilusória
e sempre esperamos demais um do outro
" já me deram muito afeto e mais seria supérfluo.
gosto das pessoas que me fazem amá-las,
mas isso é mais difícil."
(perdi o autor, um cientista)
...
...
ora, as 'mota', minha cachaça, fora o tabaco
aos 7 anos eu ia na padaria mais longe só pra ver, rodear e cheirar
as '10' motocicletas da cidade que lá paravam eventualmente
bsa, norton, jawa, royal, norman (james), matchless
e as lambrettas que me deixavam doido
só em 79 pude ter a primeira
e já rodei mais de 1 milhão de km
nas 12 motocicletas que tive para trabalhar
e quando podia, viajar, comer peixe em arraial
harley 125, rx 180, dt 180, dt 180 12v, xl 250, dt 180 87, xlx 350
ténéré 600, xt 600, dr 650, marauder 800 por 23 anos e hoje rd 135
fiz 2 viagens grandes e muitas outras menores
só de rio-poços-rio, algo perto de 100
presente da prefeitura e da odebrecht, numa manhã quente
deram o autódromo nélson piquet só pra marauder e eu
dei 1 volta, riscando pedaleiras no chão sem caroços
achando que na segunda cairia, parei e agradeci
as curvas é que me achavam, corri sem sentir
podia andar bem mais, mas resolvi parar
de bermuda e sandálias a 195 km/h
ainda sobrava cabo
. . .
devo e sou grato,
à minha vó maria sabina de jesus pereira (1886-1975)
neta de 'bugre pega a laço', me ensinava, aos 5 anos,
alguns brinquedos que seus irmãos faziam
com isso desenvolvi habilidades básicas
que me ajudaram demais
então inventava os meus e mostrava
e evoluia, o que mais me valia
como valeu, e quanto
seu interesse em mim foi primordial
foi quem mais senti perder
fiz foquetinhos que decolaram e um que explodiu
combustível de pólvora preta e goma arábica
fiz pistolas e espingardinhas de verdade
ela contava coisas de pretos e índios
que descascavam cana só com os dentes
da sua gata que trazia jacarézinhos pros filhotes
das brincadeiras de bonecas de palha que procriavam
das onças que seu pai matava, das caixas de 'anchovinhas'
que ele trazia de brodowski na sua ida anual para trocar suas colchas
então já me chateava ver que a terra tinha sido depredada antes de eu nascer
à sua filha, minha mãe, guerreira engenhosa e vitoriosa, grande cozinheira
e meu pai bom e simpático, mudando de atividades na vida, como lhe foi
dos 10 aos 14 anos ele me ensinou a admirar e gostar de são paulo
com a mãe aprendi a perspicácia, a prática e a cozinhar
ela enchia a mesa de gente e comida caprichada
meu pai assobiava, no seu meio era o 'sabiá'
e rio mesmo, tinham boas graças
lembro deles com gosto
aos 5 anos me deixaram livre
para achar meus próprios meios (!)
foi isso que exercitou minha imaginação
aos meus 3 filhos ativos
meus espelhos, minhas medalhas, minhas sementes
Marcos - uerj, ufop, ufla, unifal, professor e um cientista de saúde pública
Meia-fía Valéria, unifal e ufla, mãe de Pedro Paulo, Lis de Fátima e Ana Luz
Cecília - puc, ufla e ufla, hoje gerente de contratos de obras ambientais
Daiana - puc, genra, avalia pacientes que se submetem aos médicos
Paula - usp, unicamp, univ de lyon, professora, mãe de Theodoro
Miguel - meio-fío, alto cirurgião das nossas partes baixas
é o que devo ao caráter, sensatez e gerência da Fátima
por eles me fiz precisar e ora tenho o gosto de ser gostado
com as ocasiões sublimes de me passar a limpo com os netos
. . .
tenho uma dívida inestimável com luiz carlos de oliveira e silva,
que, de 2006 a 2015, no castelinho e depois em sua casa,
explicou os grandes pensadores e seus conceitos
com vinhos, biscoitinhos e agradinhos
que as coleguinhas levavam
devo aos professores: maria enir (em 1 mês li e escrevi), tio hominho 2º pai,
tia luzia 2ª mãe, tia maria faladeira, ti-dé, lembro deles com saudades
mais
eunice frizon, nicola romano, irmão gregório, nadir gavião, dick welton, lê,
carmelo luíses, manuel san martin (manolo), lúcia monteiro, sérgio klein,
lula e guilherme (leco) campello, elias meu compadre, cândido botafogo,
padre jayme sullivan, homem que mereceu os meus maiores respeitos,
carlos moscovitch, nélson osanai irmão, joaquim schultz, anita fiszon,
ronaldo bittencourt e ivaldo gropello-cbpo, élmio e clóvis da ag,
cecília castro, eduardo baron, márcio manela, regina kriegel,
sérgio bernardes, o arquiteto e sérgio bernardo, o violinista
mariano jacon, oscar niemeyer, yedo cavalcanti (dr iodo),
josé portinari leão, joão niemeyer, mozart, adeline,
paulinho césar, sílvio, anne lore, paula laclette,
sérgio costa, sérgio magalhães, engenheiros,
lúcia monteiro, carl hilmer bem querido,
cláudio poubel, célio e henrique da sap,
monique cabral e monique brandão,
joão pedro, toni, ernesto michelin,
flávio wasnievisky, pedro cortes,
ronaldo câmara, mauro esteves,
walter zollinger, afonso falcão,
luis melodia; cantamos juntos,
fernando tasso fragoso pires,
francisco ney, edilson rocha,
os especiais marcão e cézão
6são, maria d'alva e divina,
padre zézinho, miudinho,
na marcenaria em 1961,
deivison e ed wilson,
beatriz salles,
fritz meyer
deles ainda pego emprestado
tiveram paciência comigo, me aturaram e me alçaram
tenho um pouco de cada um e muito de todos
sei que fui ingrato com vários
agradeço aos que não me engoliram
ainda ajudam, referências úteis
sei que fui chato também
devo muito aos funcionários, bons parceiros e amigos:
ana, heleno, gilson, um 'filho', sandra e cristiane (ótimas), lena (com louvor) e geninha
mais os 20 que passaram pela fábrica e não me lembro os nomes
com vontade, me ajudaram de verdade
e aos autores que li e não vou citar
pra não faltar com nenhum nem ser 'classificado'
agora em poços tive a sorte de conhecer maria inês e joãozinho, a padeira glória,
o velho dos livros velhos da jaçanã dos santos, pompeu, jamil, seu antônio,
bin laden, todos da mina do cambará, o beca vivido (já foi), lucas, jair,
zé brechó da palha, djé, 80% surdo, meigo e feliz, eu grito com ele,
o queijeiro e a menina bonita de caldas que estudou psicologia,
jéssica bonita com seus 3 pedros e tantos gatos (um é pedro)
o juiz federal aposentado que me pede chamá-lo de você,
eliane e joão, bons como suas bananas, ovos, café e leite,
nei, maria rita e o zé de santaninha, pedro balaieiro,
panamá, lembra meu pai, contador de piadas,
nilo e lucas, os amigos mecânicos de moto
bodinho de laranjeiras, muito viajado
torresmo, chiclete de onça, dé,
geléia, mingau e pudim,
chico motosserra,
tião baixaria,
gardenal,
verola
nós sabemos rir gostoso
e,
se há quem nos sirva de exemplo, outros de lição:
"a terra está coberta de gente que não vale o que diz."
voltaire
"a alegria alheia os incomoda"
rita lee, a gênia
pessoas 'sérias' e 'sabidas', amargas e invejosas
nunca perguntam, têm certezas de tudo
zero dúvidas, vá duvidar !
posturas e afirmações são seus modos
se sabemos mais sobre alguma coisa
logo dão um jeito de complicar
pedimos clareza, emburram
insistimos, explodem
a pergunta 'porquê?' é a sua kriptonita
conversas livres os deixam inseguros
dissimulados, têm pavor do óbvio
'donos da verdade', mas tensos: "porque tá escrito!"
pífios argumentos que chamam de raciocínios
há os doutores em intrigas e difamações
envenenam informações
inventam fácil
tão acostumados a mentir
que suas memórias apodrecem
'esquecem' amanhã o que aprontaram hoje
vozes macias dos inescrupulosos
se religiosos, mais perigosos
fingem que não fingem
vivem repetindo que são felizes
o diabo é que gosta do que fazem
em nome de deus e do amor
e como falam em amor !
a mãe dizia: "têm coragem!"
que alguém os perdoe por mim
'nem sabem o que fazem'
mas sabem sim
" eu até deixo vc me fazer de bobo, mas vamos combinar antes ! "
- ouvi de um mestre de obras a um peão, com toda graça
aja raden, sobre diamantes, fez o título
"a verdade sobre as mentiras"
ah, ela fala de gente !
. . .
minhas vergonhas
dos quantos nãos que não disse quando mais precisava
minha boca, minha chatice, eloquências e gracinhas
de não ter presença imediata para respostas
de ter tido vergonha quando não devia
dos agrados a quem não merecia
de não ter feito melhores fotos
ter sido trouxa tantas vezes
das burradas que fiz
ora bobo, ora besta
meus orgulhos
como consegui sobreviver meus primeiros anos no rio
ser bem recebido em vários lugares que freqüento
ter conseguido o que tive com o que não tinha
por ter dado com gosto 5 casas de presente
de morar com a ex em paz e graça
de poder e saber reaprender
. . .
voltando aos bons sabores do trabalho:
devo a eficiência que pude ter à agfa, fuji, kodak (c/reservas), às queridas minoltas,
fujicas 6x9 65 e 90 mm, hasselblad 501 cm e superwide 903, linhof technika 4x5",
rollei 35, rolleiflex, noblex, colormat, varioscope, majosix, variomat,
schneider, rodenstock, zeiss tessares, sonnares e planares,
mecablitz, vivitar, lunasix, gitzo, time-o-lite, durst,
colex, garmin, sony e às ótimas canons digitais
mais:
intel, microsoft, adobe, wikipedia, google e google earth
bell 47 e 206, hughes 300 e 500, esquilo b2, robinson 22, 44, 66,
cessna 172, skylane e tantos outros em que voei só uma vez
suzuki, yamaha, fiat, ray ban, 'vitorinokia'
ferramentas de talento, usei com gosto
e curti o quanto e enquanto pude:
phillips, teac, thorens, shure, harman kardon, bravox, lando
de 75 a 2011 juntei mais de 10 metros de LPs lado a lado
antigos e modernos, canções e orquestras
foi tudo saqueado na casa da mãe
e sacrificaram a boa casa
hoje, sem aquela qualidade de antes, mas ainda
fragmentos de músicas ouvidas ou lembradas
remetem a outros momentos da vida
vou ao google e youtube e a encontro completa
procuro as traduções, versões, meus direitos
lembro dias longes e como estava então
as memórias estão lá me esperando
aparecem de graça, arquivos
até pra chorar é bom
o que não tive tempo de curtir
e o que me esnobaram
agora à vontade
. . .
. . .
hoje
dou boa vida a um gato gaiato, cor de pulga, olho azul, brincalhão e amigão
e a uma gata bonita, sofisticada e exigente, que resolveram morar aqui
ele, um animal ninja, não tem medo de cão nenhum; é um onço
ela não suporta vê-lo brincando, logo cria caso, como sóe
mais o vilão e a intrusa que vêm pegar seus restinhos
com a briga diária pra ninguém perder a forma
pelos pêlos que voam se vê quem apanhou
quando ouço encrenca, interfiro
e tome água, vilão !
a cada dia nos entendemos mais e nos agradamos
não sabia que se podia gostar tanto deste bicho
treinadores dos nossos sentidos
nos seus vários modos de miar
o jeito caprichoso de andar
de atentar, pedir
e de olhar
já consigo antecipar seus atos
e eles os meus
aqui também
tem os tantos passarinhos que vêm lanchar
chegam bem cedo, o 'buffet' já abastecido
contei 19 espécies, 5 só de beija-flor
um beija-flor miudinho, fala bem-te-vês (!)
bebe seu chazinho, senta no poleirinho
e fica resmungando baixinho ½ hora
me deixa ficar a ½ metro
e
se chegam os bem-te-vis escandalosos
ele os imita, discreto, rouquinho
... é de arrepiar !
ainda 'cuido' de umas plantas, dou sorte com os gerânios
e as belezinhas que vêm na terra que trago do mato
tenho um jequitibá menino, esperando chão
. . .
"country roads, take me home"
jd
quando posso, quero e o tempo tá bom
vou aos 'sertões' desta região exuberante
conhecendo lugares que na infância ouvi falar
motor 2t, som e fumaças agradáveis da motocicleta
as estradas são de todos, caminhos de quem acha
fujo de asfalto, vacas, cachorros, chuva e tombos
marco uns tocos pra cavucar um dia, paro fácil
ipês, raízes de cajaranas, jacarandás, perovas
panho goiaba, casco laranja, xêro fôia
acho água nas sombras, sento
ouvindo o lugar, de longe
absorvendo silêncios
me torro no sol
em espaços verdes
e bafos de terra fresca
'dias grandes, azuis e brancos'
gr
nos caminhos, roceiros(as) tranquilos
prontos a uma boa conversa
e com o que dizer
sem pressa
quase todos nasceram onde vivem
e já foram ao menos uma vez à 'pricidnórt'
a meca da pobreza explorada, crente e disposta
nas chegadas, sorrisões, comidinhas e comidonas
"qué qui eu faço um armocinho procê? "
ainda não consigo aceitar
rosquinhas e quitandas de velhinhas muito espertas
doces, linguiça frita e queijos frescos da casa
ótimos cantos pra se sentar e ficar
pão, pinga e café de verdade
nem tudo de uma vez
"_ bão cê chegá, tava pensânu uma coisa pá ti falá!"
nas cozinhas, onde as melhores recepções
levo pão e às vezes uns bifes, raros por lá
quando não acho uns restos, fazemos
fora os bichos que admiramos ... e comemos
lambuzados de paz em ambientes relíquias
fraternas comunhões ao sol ou à sombra
ouvindo galos músicos e regos d'água
as caras das crianças me deixam seguro
os cachorros me fazem festa e colam
também levo carninha e ração
meninos de 6 anos já têm sua roça de feijão
meninas já fazem seus planos
lá me tratam como super-herói
pois morei no rio de janeiro
' é muita coragem ! '
aparecem as visitas
minhas velhas piadas
até parecem novas aqui
gostam de minhas histórias
degusto seus 'causos'
nos interessamos
caipiras cheirosas, saudáveis, vigorosas, dá gosto de ver
ativas e 'orgânicas', desbancam qualquer feminista
não precisam provar nada com caras de sabidas
não se vê poses, só as posturas espontâneas
não exigem atenção pois não precisam
corretas, não ficam se afirmando
conversas na intensidade certa
perguntas deliciosas e puras
caras sérias que encantam
e sorrisos de toda graça
"... o rir um pouco rouco, não forte, mas abrindo franqueza quase de homem,
sem perder o quente colorido, qual, que é do riso de mulher muito mulher,
que não se separa da pessoa, antes parece chamar tudo pra dentro de si."
gr, o insuperável
lá não se ouve as irritantes risadas ardidas e forçadas
fêmeas seguras, simples, sem encrencas, fáceis
o que a gente fala tem boa volta, o que se ouve se aproveita
nada de olhares tortos, caras duras, conversas invasivas
ainda não vi perturbadas nem 'tarjas-pretas'
muito menos velhas emburradas
umas manuelas sacudidas que me deixam sem jeito
uma rafaela que chega suave na sua égua 'catita'
uma vanessa que pastoreia de moto
uma thaís que pilota tratorzão;
ara, planta e faz frete
os homens chegam tranquilos
trazem e dividem paz
rústicos e bons
nos respeitos
um dia um velhinho disse ao me ver:
"chegou o homem verdadeiro !"
ironia ? não conhecem isso
é porque gosto de esclarecer como posso
o que não tiveram a chance de saber
ouço confidências
chegam assim: 'vc que é vivido ...'
e nós trocamos experiências e valores
e devolvo que bem vividos e sabidos são eles
em comum, nossas curiosidades e habilidades
e a carga que acumulamos nos samburás da vida
se soubessem que sou eu que aprendo mais ...
"bobo é quem pensa que caipira é bobo !"
cornélio pires
suas casas pequenas e bem posicionadas
abrigam com conforto e dignidade
vidas simples de muita riqueza
paz, saúde e limpeza
difícil é sair, sempre um café a mais
saudades plantadas, volto carregado de ecos:
. . . 'num demora não ! ' . . . ' vem pá posá ! '
um dia me ligaram: ' teu' doce tá pronto ! '
só porque elogiei uma laranjeira
não fotografo estes rostos, prefiro só me lembrar
não quero arriscar nenhuma má interpretação
não tenho a soberba dos medalhões posudos
nem a cara de pau dos photo-marketeiros
que vivem de explorar estas purezas
doando um boné ou camiseta
mas faturando depois
ando por lá menos do que gostaria
pra não cansar as hospitalidades
nem aguar minha graça
a satisfação supera o desejo
e saudade boa é bom
. . .
peguei gosto de ir ao cemitério, o campo da decomposição
muitas árvores e sombras, reduto de passarinhos
o contraste das 'moradas' e as placas 'eternas'
não há um(a) só safado(a) enterrado lá
são só saudades, nada de alívios
no silêncio,
sentado e pitando,
a atividade civilizada
são afastados rumores
de vivos sempre atrasados
. . .
...tinha mais a dizer mas este espaço é limitado ...
perdi muito texto daqui pra baixo, talvez continue no falo
nem sei se vale a pena
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